Sem confiança, a roda da construção não gira
Depois de um primeiro trimestre no vermelho, a atividade, que inclui construção pesada, voltou a cair 0,8% no segundo trimestre, ante os primeiros três meses do ano, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com a crise, os bancos haviam se tornado mais restritivos na concessão de crédito, mas Fabrizio Ianelli, superintendente-executivo de negócios imobiliários do Santander, diz que os modelos de admissão do banco estão em níveis quase iguais aos pré-crise. “As taxas de juros, que chegaram a ficar entre 8% e 8,5% em 2014 e 2015, também não estão muito distantes”, diz. As taxas do Santander no SFH (Sistema Financeiro da Habitação) iniciam em 8,99%. “Os problemas são aqueles que todo mundo conhece. O nosso mercado depende basicamente de três fatores: juros baixos, desemprego e regulamentação ajustada e racional”, diz França. “Temos taxas de juros no piso histórico, o desemprego é o que se sabe e, na regulação, a insegurança jurídica e as perdas causadas pelos distratos emperram os negócios. No mais, empresários e consumidores, precisamos ter menos insegurança quanto ao futuro”, afirma ele. Ana Castelo, coordenadora de projetos da construção do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia), faz análise parecida: “As famílias estão preocupadas porque o mercado de trabalho reage lentamente e há incerteza sobre o que vai acontecer com a economia”. No trimestre encerrado em julho, a taxa de desemprego ficou em 12,3%, segundo o IBGE. “Isso trava uma decisão de longo prazo como a compra de um imóvel”, diz Castelo. Petrucci, do Secovi, é dos mais otimistas. Ele diz acreditar que está havendo recuperação considerável das vendas, em particular em São Paulo. A venda de imóveis novos de fato subiu 64% nos últimos 12 meses, voltando ao nível do início da recessão, em 2014. O fundo do poço ocorreu em 2017, com vendas 57% menores. “Os números ruins do crédito devem melhorar em breve. Há uma defasagem nas estatísticas, que logo vão refletir o aumento do número de negócios que estão sendo concretizados”, diz Petrucci. “Mas, como todo mundo, achamos que a recuperação recente nas vendas vai ganhar ritmo com mais clareza no país”, diz. Juros Os preços dos imóveis devem subir e há espaço para que as taxas de juros de financiamento imobiliários caiam, dizem executivos de bancos e empresários do setor. Isso em um cenário “cachinhos dourados”, na expressão de economistas americanos: economia nem muito fria nem muito quente em 2019. O preço médio dos imóveis ainda cai, a um ritmo de cerca de 4% ao ano, menor do que os 9% do início de 2016, com base em cálculos feitos a partir do índice Fipezap, descontando a inflação. O indicador acompanha o preço de imóveis anunciados em 20 cidades. Segundo França, da Abrainc, a tendência geral do mercado deve ser de alta. “Os preços estão baixos e devem ser corrigidos. Chegamos a uma situação de estabilização ou de recuperação em alguns segmentos do mercado”, diz. “Passada a instabilidade ligada às eleições e com alguma recuperação econômica adicional, com mais previsibilidade, vai haver mais demanda”, explica França. “Tende haver uma recuperação nos preços, com aumento da procura de imóveis de padrão mais alto”, diz Petrucci. A baixa média nacional dos preços, de 19% desde o pico de 2014, apaga diferenças do mercado. Os imóveis de um quarto ficaram em média cerca de 22% mais baratos; o preço daqueles de quatro dormitórios ou mais baixou 15%. Em São Paulo, o recuo foi de cerca de 15%; no Rio, de 28%. As taxas de juros para financiamento estão perto do piso histórico, mas podem ficar estáveis ou cair um pouco mais, no caso do crédito imobiliário, mesmo com as expectativas crescentes no mercado financeiro de elevação da Selic (taxa básica de juros). Siqueira, da Caixa, afirma que “os bancos começaram um movimento de redução das taxas, mas ainda não chegaram a um valor competitivo com o do FGTS”. “Elas precisam cair mais? Sim, e isso deve acontecer, mas as instituições aguardam definições macroeconômicas”, diz. Hoje o crédito com o FGTS tem taxa de 6%, em média. Com recursos da poupança, 9%. Na média do Banco Central, 7,96% (dado de julho, o mais recente). Fonte: Folha de S. PauloPublicações relacionadas
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