Alguns produtos da cadeia de materiais de construção têm mostrado forte demanda no país nos últimos três a quatro meses. Aço longo, com destaque para vergalhões, é um exemplo. Outro caso é o de cimento, cujo consumo vem, surpreendentemente, aquecido desde junho. Em setembro, as vendas tiveram aumento de 21,4% ao se comparar com o mesmo mês de 2019. Foram despachadas 5,8 milhões de toneladas, informou o SNIC, entidade que reúne os fabricantes no país.
Dois vetores sustentam essa demanda firme: a autoconstrução, principalmente residencial, e as obras do setor imobiliário. “No trimestre julho-setembro vivemos uma explosão de demanda de cimento, cujo início da recuperação se deu a partir de maio, em plena pandemia”, disse ao Valor Paulo Camillo Penna, presidente-executivo do SNIC.
Em nove meses, o aumento das vendas é de 9,4% na mesma base de comparação, com acumulado de 44,6 milhões de toneladas. Se for mantido esse ritmo, a expectativa é que a indústria encerre 2020 com entrega de 60 milhões de toneladas. É o mesmo volume de 2011, quando o mercado nacional estava em ascensão - 2014 foi o auge, com 71,9 milhões de toneladas de consumo.
A autoconstrução residencial, com novas obras e reformas, é o motor da forte demanda, informa Penna, lembrando que grande parte disso vem da poupança das pessoas. “O fato de as pessoas ainda permanecerem mais tempo em casa mantém os investimentos em melhorias e reformas em seus lares”, afirma. Segundo o executivo, pesquisas da Cielo-varejo mostram que, de março a setembro, as lojas de materiais de construção tiveram um aumento de vendas na ordem de 15%.
Essa recuperação, no entanto, ainda não compensa os anos de perdas sofridos pelas cimenteiras - 2015 a 2018. No ano passado houve um pequeno alívio. Atualmente, destacou Penna, a ociosidade do setor é de 42,5% ante a capacidade instalada de 100 milhões de toneladas por ano. “Mas no trimestre já trabalhamos ao ritmo, anualizado, de 70 milhões de toneladas. O objetivo é termos as condições econômicas no país para trabalharmos, no mínimo, com ocupação de 60% da capacidade ao longo de 2021.”
Segundo o executivo, a pressão de demanda por cimento que se verificou meses atrás já está superada. Naquele momento ocorreu também uma recomposição de estoques pelos canais de venda. “Já não existe mais. A oferta está regularizada”, afirmou.
Ele informa que muitos fornos que estavam paralisados foram religados pelas empresas. “O processo não é da noite para o dia - leva-se de 30 a 60 dias o religamento. Em alguns casos, que exige uma reforma mais complexa do equipamento, pode durar até seis meses”. O custo para reativar uma unidade dessas varia de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões, informou Penna.
No período de 12 meses - de outubro de 2019, até setembro -, as vendas de cimento no país alcançaram 58,4 milhões de toneladas. Em igual período anterior, até setembro de 2019, o volume foi de 54 milhões de toneladas, o que resulta em alta de 8%.
Na avaliação de Penna, os resultados são surpreendentes até o momento, mas eles não dão segurança a longo prazo. “As vendas estão sendo sustentadas, em sua grande maioria, pelas construções imobiliárias, a manutenção do ritmo das obras e das pequenas reformas residenciais.” No segmento comercial, já há desaceleração com a reabertura das empresas desse segmento.
Para o executivo, é fundamental que os investimentos em saneamento e a retomada das obras de infraestrutura - que é um fator relevante para a indústria cimenteira - saiam do papel e entrem na esperada agenda de crescimento do país. Ele cita como ponto positivo o recente leilão de saneamento para a região da capital do Estado de Alagoas.
É necessário vir muitos outros leilões, afirma, para que obras de infraestrutura saiam dos pífios 8% a 10% no consumo de cimento e voltem, ao menos, ao nível de 20%.
Além de um ciclo consistente em lançamentos imobiliários, ele diz que é preciso que o programa de habitação popular, Casa Verde Amarela, aconteça de fato. Nos lançamentos, segundo informações que obteve do setor, há previsão de crescimento de 20% a 30% ao longo deste semestre
Fonte: Valor Econômico
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