A população mundial deve chegar a 8,5 bilhões de pessoas até 2030, segundo o estudo World Population Prospects 2019, produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Atualmente com quase 213 milhões de habitantes, o Brasil é o 6? país mais populoso, com 87,6% dos habitantes em área urbana. Em um território que bateu recorde no déficit habitacional entre 2007 e 2017 – alta de 7%, de acordo com o mais recente levantamento feito pela Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) com a Fundação Getúlio Vargas -, novas soluções de moradia surgem, ainda que pulverizadas. Alguns projetos aliam tecnologia, sustentabilidade e urbanismo a preços mais acessíveis, a fim de atender a um público socialmente diversificado.
Definida como “primeira cidade inteligente inclusiva do mundo”, a Smart City Laguna, em São Gonçalo do Amarante (CE), ocupa uma área de 33 hectares a 55 km de Fortaleza. Projeto piloto do Grupo Planet no Brasil, o local tem capacidade para 25 mil moradores e até agora ergueu 280 casas, das quais 100 já foram vendidas.
“Nosso pensamento foi criar ‘smart cities’ ao alcance de todos, que realmente tenham opções de compra para cada perfil de renda”, diz a CEO italiana Susanna Marchionni, à frente de outros três projetos semelhantes no Rio Grande do Norte, na Bahia e no Ceará, além de quatro núcleos inteligentes verticais na capital paulista.
Quando horizontais, os projetos do grupo não têm taxa de condomínio e a infraestrutura das áreas comuns, com serviços, cursos e tecnologias gratuitos, é aberta e pode ser usufruída e compartilhada por toda a vizinhança. “Isso significa que aplicativo, gestão social, hortas urbanas, biblioteca, biblioteca de objetos, cinema, espaço saúde, cozinha social, bancos inteligentes, totem interativo, absolutamente tudo está à disposição de todos”, afirma a CEO.
Por serem certificados pela Caixa Econômica Federal para o Minha Casa Minha Vida, todos os empreendimentos podem comercializar unidades de acordo com as regras de financiamento do programa. “Só que, além de todos os benefícios do programa, a gente oferece mais de 50 soluções inteligentes pelo mesmo valor”, diz Eduardo Peralta, CEO da InLoop Holding, parceira do Grupo Planet nos projetos paulistanos.
Batizados de Viva!Smart, estes têm previsão de lançamento para o segundo semestre de 2020 e totalizam 2,5 mil apartamentos em condomínios verticais nos bairros Bela Vista (região central), Itaquera (zona leste), Jabaquara (zona sul) e Freguesia do Ó (zona norte).
Fundamentados nos conceitos de inovação digital e social, segundo o empresário, todos contarão com o mix tecnológico e de serviços do Grupo Planet, como bancos inteligentes, cinema gratuito, hortas horizontais e bookcrossing, entre outros, dentro do próprio condomínio. “A digitalização gera empoderamento das comunidades e das pessoas, gera inclusão”, completa Marchionni.
Bairros inteligentes, não apenas ‘cidades’
Mais corretamente batizados de bairros ou núcleos por estarem localizados em municípios que já existem, esses empreendimentos auxiliam na difusão de tecnologias digitais que podem trazer benefícios às pessoas e à cidade onde estão inseridos, de acordo com Mônica Salgado, arquiteta e professora do programa de pós-graduação em arquitetura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Para ela, esta movimentação deve ter grande adesão, “especialmente a partir da pandemia, quando todos tivemos que lidar com essas tecnologias na realização do trabalho remoto ou estudo”. Ela ressalta, no entanto, que não basta a digitalização. “A transformação que leva uma cidade a ser identificada como ‘smart’ considera as características e demandas dos cidadãos, incorporando soluções inteligentes que trazem respostas para questões específicas”, explica.
Outro que vê os bairros inteligentes como caminho natural em um futuro próximo é o arquiteto e urbanista Caio Esteves, fundador da consultoria Places for Us e autor do livro Place Branding. “A ideia de cidade compacta é na verdade uma releitura da cidade antiga, onde trabalhava-se, morava-se, divertia-se, tudo numa distância caminhável”, conta.
Localidades como a Granja Viana, em São Paulo, não se enquadram neste perfil, porém, por não ter capacidade de conexão com a região, tornando o morador dependente de carro. “Hoje começa-se a se falar em cidades inteligentes e humanas, o que me parece fazer mais sentido, numa analogia clara entre tecnologia a serviço das pessoas”, diz. “Não criar uma conexão cultural com o mundo ao redor é a receita para uma cidade fantasma.”
Fonte: Estado de S. Paulo
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