MERCADO IMOBILIÁRIO ESPERA EXPANSÃO EM 2021 MESMO QUE JUROS AUMENTEM

O mercado imobiliário está otimista com 2021. Depois de um 2020 surpreendentemente positivo, apesar da pandemia, as perspectivas para o ano são de expansão das vendas, da indústria e do crédito.

Pudera. Entre as empresas que já divulgaram suas prévias de resultados do último trimestre, há quem reporte as melhores vendas da história –e isso em um ano atípico.

Na capital paulista, as 51,4 mil unidades residenciais vendidas representaram um recorde na série histórica iniciada em 2004 pelo Secovi-SP (sindicato da habitação). O resultado superou em 4% as 49,2 mil unidades vendidas em 2019, ano considerado excepcional.

A preocupação com preços e prazos de entrega de matérias-primas persiste, mas há expectativa de estabilidade ainda no primeiro trimestre. Do lado do consumidor, os juros abaixo de 7% facilitaram financiamentos. Mais famílias acessaram crédito e outras conseguiram, com a mesma renda, comprar um imóvel mais caro do que poderiam quando os juros passavam de dois dígitos.

A Abecip (associação de entidades de crédito) projeta alta de 21% na concessão de crédito neste ano, considerando SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) e FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Em 2020, os financiamentos com recursos da poupança superaram o ano de 2014, o do “boom” dos imóveis. Para o presidente da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), Luiz Antonio França, todos os segmentos terão crescimento em 2021.

Uma eventual elevação da taxa básica dos juros (Selic) não preocupa o setor. “Se a Selic chegar a 3,5%, a poupança não muda e não deverá ter impacto no mercado. Só é fundamental ficar abaixo de dois dígitos”, disse França.

Para a economista da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Ieda Vasconcelos, uma Selic em 4% manteria estímulo ao crédito. No setor econômico, que engloba o Casa Verde e Amarela (o antigo Minha Casa Minha Vida), o resultado deverá ser impactado pelo déficit estimado em 7,8 milhões de moradias e pela criação de novas famílias.

Na capital, segundo balanço do Secovi-SP, metade do que foi lançado em 2020 foi dentro do segmento econômico. O indicador calculado pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisa) para a Abrainc mostra comportamentos distintos entre os segmentos de médio e alto padrão e econômico nos 12 meses até novembro.

Esse último teve alta de 12,7% nos lançamentos, e de 36,4% nas vendas líquidas. Entre os empreendimentos mais caros, as vendas ficaram negativas em 7,6%, e o volume de novos negócios, em 35,1%.

Na avaliação da pesquisadora Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Ibre-FGV, as expectativas positivas dependerão da melhora da economia para que se confirmem. “O ano começa com incertezas significativas. As variáveis crédito e juros serão importantes para garantir um bom desempenho, mas ele não será excepcional se a economia não reagir”, afirmou.

A confiança dos empresários da construção vinha crescendo em 2020, mas começou a arrefecer. Em janeiro, o índice da FGV teve recuo de 1,4 ponto. “Há um limite para esse descolamento entre a situação do mercado imobiliário e da economia”, disse Ana Maria.

A Cbic prevê que o PIB (Produto Interno Bruto) da construção —inclui, além de edificações, obras de infraestrutura e serviços especializados— recue 2,8%. Para 2021, a aposta é crescer 4,5%, a maior variação desde 2013. A câmara da indústria prevê alta de 10% nas vendas. Até o terceiro trimestre, a entidade registrou 8,4% de aumento nas unidades comercializadas e queda de 27,9% nos lançamentos.

Para o Secovi-SP, o aumento nas vendas deve ficar entre 5% e 10%, mas a perspectiva positiva não é consenso na entidade. Basílio Jafet, presidente do sindicato, disse que o aumento nos lançamentos nos últimos meses do ano conduziu a um “ligeiro otimismo”. Ressaltou, porém, que o crescimento dependerá de as condições macroeconômicas melhorarem e o preço dos insumos recuar.

O custo maior de matérias primas afeta mais, segundo ele, quem trabalha no segmento econômico –o teto do antigo Minha Casa, Minha Vida é de R$ 240 mil, deixando apertadas as margens para elevações de preços. Como o crescimento do mercado em 2020 dependeu muito desse segmento, o risco é maior. “Não vemos o governo elevando os limites do Casa Verde e Amarela, então podemos ficar em uma situação difícil”.

Por outro lado, faltou segurança para lançar novos negócios. Regras de distanciamento social, que fecharam estandes, e maior lentidão na aprovação de projetos também seguraram os lançamentos. O plantão de vendas tem efeito principalmente sobre o mercado de médio e alto padrão, que atende mais famílias, e onde a demanda é menos urgente. Ainda assim, quem trabalha com esse segmento está otimista.

Fonte: Folha de S.Paulo

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