Com a necessidade do isolamento, a pandemia mudou a forma de as pessoas se relacionarem com suas casas. Os espaços passaram a ser mais valorizados e aumentou também a busca por uma melhor infraestrutura. Os bancos facilitaram o crédito imobiliário e as taxas de juros foram reduzidas, o que contribuiu para o aquecimento do setor imobiliário desde maio do ano passado após passar por uma baixa no início de 2020. O mercado de alto luxo, porém, por ter um público específico sempre apresentou uma certa estabilidade, sendo considerado promissor e pouco afetado em tempos de crise. A busca por imóveis de alto padrão cresceu.
— Esse mercado tem se mostrado atraente e resiliente e há muitas transações acontecendo. As pessoas querem espaços maiores, com piscina, varanda, cobertura e outros. Ainda tem a questão da valorização do dólar e do euro e da desvalorização do real, que atrai compradores com recursos fora do país. Quem investia dinheiro em viagens ou em imóveis no exterior, recuou e voltou a investir no lar. Quem compra este tipo de imóvel não financia, faz uma proposta de liberação de recursos, permuta, à vista ou em parcelas que não chegam a 12 meses — avalia Leonardo Scheneider, vice-presidente do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi-Rio).
Segundo uma análise do Secovi-Rio, as ruas mais caras da Barra são Avenida do Pepê, Lúcio Costa, General Guedes da Fontoura, Bromélias da Península, João Carlos Machado, Desermbargador João Claudino de Oliveira e Cruz, Avenida Tim Lopes, Coronel Malta Rezende e Jardins de Santa Mônica, em que o valor do metro quadrado varia de R$ 9.363 a R$ 12.502.
Além da localização, há outros critérios para determinar se um imóvel é de alto luxo ou não: a metragem, o layout e a estrutura do prédio, caso seja um apartamento, são alguns deles. Outro atrativo dos imóveis de alto luxo da região é que, segundo Scheneider, eles costumam ser mais novos, com designs mais modernos do que os da Zona Sul, por exemplo.
— Alto padrão se refere a imóveis entre R$ 5 milhões e R$ 40 milhões. Na Barra, os mais valorizados são os cocondomínios horizontais de casas, como Mansões, Pedra de Itaúna, Santa Helena e Santa Mônica, entre outros — completa Scheneider.
Roberta Costa, diretora da Home Hub Jardim Oceânico, explica que na faixa de preço considerada como alta luxo, a maioria são casas, coberturas ou apartamentos em condomínios bem conceituados. Ela também observa que grande parte dos clientes veio da Zona Sul em busca de maior espaço ou da própria Barra. Segundo ela, com o dinheiro que o cliente compraria um apartamento de 100 metros quadrados no Leblon, na região ele adquire um de 200.
— O ano de 2019 foi bom, mas 2020 foi muito bom, um divisor de águas. Os clientes querem mais espaço por conta do home office e desejam um jardim, piscina e churrasqueira, até porque durante a pandemia não puderam utilizar as áreas de lazer dos condomínios. As pessoas passaram a ficar mais em casa e as confraternizações passaram a ser em seus próprios lares — diz Roberta.
A diretora diz que a empresa hoje tem em sua carteira mais de 760 imóveis ativos e que cerca de 25% são de alto luxo. Ela também destaca que muitos clientes que pagavam aluguel passaram a optar pela casa própria. Entre a localização mais procurada na empresa está o Jardim Oceânico e a Avenida do Pepê.
— Aqui é tudo muito próximo, tem metrô, supermercado, execelentes restaurantes, uma bela vista e é possível fazer tudo a pé. Muitas pessoas também procuram pelo Península e um pedaço da Avenida das Américas. Destaco alguns condomínios como Jardim do Itanhangá, Wimbledon Park e Arouca, mas há mutas opções na região — afirma.
No FontVieille, na Península, que ainda tem unidades à venda, o luxo é visto pelo condomínio que tem obras de Ceschiatti, Pancetti, Rodin, Portinari, Burle Marx, Manabu Mabe, Krajcberg, Bruno Giorgi e Di Cavalcanti na decoração. Os apartamentos tem de 296 a 418 metros quadrados e são dois ou um por andar, com hall e elevadores privativos. As coberturas vão de 612 a 830 metros quadrados. Os valores começam a partir de R$ 3,3 milhões.
É muito raro encontrar na Zona Sul um lançamento com metragem acima de 200 metros quadrados. Os produtos são menores e mais apertados. A Barra se consagrou por ter imóveis maiores e em condomínios planejados. O FontVieille é um projeto inusitado — diz Carlos Felipe A. de Carvalho, vice-presidente da Carvalho Hosken.
Hosken não considera um imóvel de alto luxo pelo seu valor, mas pelo produto. Ele adianta que o valor dos imóveis deve voltar a subir já que todo o estoque da empresa praticamente acabou ao longo da pandemia.
— Muitas dessas famílias que têm condições de ter um imóvel de melhor padrão, têm o seu dinheiro investido. Em determinado momento elas avaliam que não condiz com a renda fixa do banco e migram para o investimento no mercado imobiliário — destaca.
Fonte: O Globo
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