A combinação entre juros no menor nível da história, estabilidade da inflação e o pacote de estímulos do governo permitiu que o mercado imobiliário caminhasse na contramão dos outros setores da economia durante a pandemia do novo coronavírus.
Entre os indicadores que confirmam o bom desempenho do segmento aparece a alta superior a 8,23% no volume de crédito imobiliário concedido em maio, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Mesmo em meio à pandemia, os financiamentos com recursos da poupança totalizaram R$ 7,13 bilhões no período, segundo a Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança). “Estamos praticamente com o juro real zerado e isso traz um impacto muito importante no preço dos imóveis. Para o crédito, a gente vê as taxas de financiamento imobiliário também caindo. Esses fatores facilitam a vida de quem quer comprar”, afirma o coordenador do índice FipeZap, Eduardo Zylberstajn.
Luiz Antonio França, presidente da Abrainc, avalia que os juros baixos tornam os imóveis uma boa alternativa de investimento para os compradores. “Sem oportunidades de investimentos com retorno alto, o consumidor investe o dinheiro em um imóvel, pode morar no local e ainda contar com uma valorização”, analisa ele, que aponta para uma valorização dos imóveis superior ao CDI nos últimos 10 anos em São Paulo.
No trimestre finalizado em abril, o número de unidades vendidas totalizou 29.202, volume 6,7% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, segundo a Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias).
Para França, o indicador foi puxado principalmente pelo segmento de baixa renda devido ao alto déficit habitacional que aflige essa camada da população. “O consumidor da baixa renda precisa de um lugar seguro para morar. Esse mercado segue resiliente mesmo com a crise, está muito positivo e continua vendendo”, destaca o presidente da Abrainc.
Além dos juros mais atrativos, França aponta que também ajudaram o setor os pacotes de medidas anunciados pela Caixa Econômica Federal e as recentes taxas de inflação negativas. “Existe uma grande oportunidade nas operações negociadas pelo IPCA, que captam a redução da taxa de juros no mercado. Essa linha está realmente bem atrativa”, avalia ele.
De acordo com a Caixa, as medidas de fortalecimento do setor fizeram com que apenas 0,7% das obras estivessem paralisadas em função da crise na última semana de junho. “Os canteiros de obras estão extremamente controlados sob o ponto de vista sanitário”, garante França.
Zylberstajn considera o cenário atual como um “combustível” para o aumento da demanda pelos imóveis. “Para as famílias que antes encontravam alguma dificuldade, o financiamento ficou mais barato e o crédito mais viável”, explica ele.
Ao comentar a respeito do futuro dos preços dos imóveis residenciais, que apresentou alta real de 1% no primeiro semestre, o coordenador do FipeZap aponta que vários fatores vão influenciar a variação do valor médio do metro quadrado nos próximos meses. “Precisamos entender o que vai acontecer com a pandemia e torcer para o ambiente político não se deteriorar” Eduardo Zylberstajn Confinamento deve aumentar busca por novos imóveis no futuro.
Efeito quarentena
As medidas de isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus também devem ajudar o setor imobiliário no futuro. De acordo com França, a quarentena aumentou a percepção de que a casa não atende a todas as necessidades das famílias. “As necessidades de uma moradia mais adequada apareceram. As pessoas hoje valorizam as varandas, as coberturas e até mesmo casas”, explica Luiz França.
A fala de França pode ser comprovada por um levantamento da OLX, que mostra o aumento de 18% na procura por casas e apartamentos com ao menos 3 dormitório nos meses de abril e maio. “As pessoas estão passando mais tempo em suas casas e percebendo com mais clareza outras necessidades de conforto”, afirma Marcelo Dadian, diretor de Imóveis da OLX Brasil.
Fonte: R7
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