Imóveis conectados, compactos, em condomínios sustentáveis e com bem mais áreas compartilhadas. Quem diria que lá na década de 1960, os criadores da série animada Os Jetsons – William Hanna e Joseph Barbera – acertariam em cheio como deve ser a casa do futuro.
Segundo dados do estudo Comportamento do Consumidor Imobiliário para 2040, elaborado pela consultoria Deloitte em parceria com a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), os imóveis terão tecnologias de monitoramento virtual, smart home, segurança, mais acessibilidade, uso de fontes de energia renováveis e até hortas comunitárias.
Não será uma questão de luxo, mas uma exigência dos consumidores, formados em sua maioria por famílias de três pessoas, conforme apontam os números da pesquisa, que terá sua divulgação completa em agosto.
“Em 2040, o contexto será de uma sociedade mais plural e dinâmica, que buscará comodidade e facilidade no dia a dia. Para isso, serão necessárias soluções mais personalizáveis, customizáveis, flexíveis e adaptáveis”, explica o economista-chefe da Deloitte, Giovanni Cordeiro.
Um robô pode atender à porta de casa ou cuidar das tarefas domésticas, como a personagem Rosie, dos Jetsons. Só que o controle de tudo fica no smartphone do dono. É neste contexto que o mercado imobiliário e da construção civil deve inserir os novos empreendimentos na era da Indústria 4.0 – marcada pela automatização e pela internet das coisas.
“As edificações de 2040 poderão oferecer tecnologias fixas das estruturas residenciais que possam ser conectadas com os aparelhos do morador, como fechaduras eletrônicas, câmeras de monitoramento, espaços para receber e armazenar com segurança comidas e compras online. Em alguns países já se pensa em espaços para receber entrega de produtos por drones”.
Deve mudar também a forma de adquirir estes imóveis, como destaca o presidente da Abrainc, Luiz França. Metade dos consumidores em 2040 deve abrir mão do corretor e do consultor no processo de compra. Outro dado chama atenção: 40% das compras de residência poderão ser realizadas integralmente pela internet de forma mais prática e menos burocrática.
“A pesquisa demonstra que o comportamento do consumidor mudou, e muito, se adaptando por conta da tecnologia, da economia e das gerações. Em 2040, os consumidores dessas novas gerações exigirão ética das empresas e transparência em seus processos, desde o detalhamento da construção até a conclusão da compra. O processo de aquisição será mais automatizado e eficiente”, analisa.
Quando mais inovadora for a atitude verde destes imóveis modulares e funcionais, melhor. A pegada ecofriendely é uma das principais preocupações de 29% dos milenialls (ou Geração Y) e a Geração Z, que daqui a 21 anos irão representar as faixas etárias de 48 a 57 anos e 40 a 47 anos, respectivamente.
Para o diretor técnico da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), Alexandre Landim, empreendimentos mais sustentáveis têm ocupado cada vez mais espaço, sobretudo, na capital baiana.
“Salvador está na vanguarda da construção civil neste sentido. Estamos aplicando hoje as melhores práticas, apoiados em inovação e fomentando a pesquisa e desenvolvimento destas tecnologias junto às universidades”, afirma.
Ainda de acordo com Landim, além de sustentáveis, os projetos devem ser mais assertivos e precisos. “O futuro será construído com mais virtualização, análise de dados, estatísticas e simulações. Hoje, por exemplo, nossos imóveis passam por simulações acústicas e térmicas. É uma prototipagem que já aplicamos em Salvador”.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA), Carlos Henrique Passos, concorda. “A adaptação é uma questão de necessidade. Na hora que a gente percebe que se não atender o cliente vai perder mercado, aí você começa a ter que projetar isso para um consumidor cada vez mais criterioso”.
Casa própria?
Mesmo exigentes, estes consumidores não necessariamente irão sonhar com a casa própria. Isto porque segundo a engenheira civil e pró-reitora administrativa do Centro Universitário Senai Cimatec, Tatiana Ferraz, o conceito de compartilhamento deve ir além das garagens com plugs para carros elétricos ou de dividir a mesma lavanderia. As casas devem passar pelo processo de “uberização”.
“Quem disse que o apartamento vai ter que ser comprado? Então se fala muito em diminuir esta posse do apartamento, onde isso passa a ser um serviço”.
Outra vocação futura está no retrofit, ou seja, adaptação de construções existentes para novos usos, o que deve acontecer com prédios antigos. “São imóveis que irão precisar ganhar conteúdo sem que sejam demolidos. Temos experiências que seguem essa linha, como os imóveis no Centro da cidade que abrigam o Hotel Fasano e o Fera”, completa ela.
Fonte: Abrainc
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