GOIANOS PLANTAM ÁGUA

Dos 5.570 municípios brasileiros, apenas 25% tinham Plano Diretor contemplando prevenção de enchentes e enxurradas e 23% declararam ter Lei de Uso e Ocupação do Solo prevendo essas situações. Mais da metade dessas cidades (59,4%) não contavam com instrumentos de planejamento e gerenciamento de riscos em 2017. Entre aquelas com mais de 500 mil habitantes, 93% foram atingidos por alagamentos e 62% por deslizamentos. Os dados são do Perfil dos Municípios Brasileiros (Munic), divulgado em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Como é possível constatar todos os anos através dos noticiários, a proporção de localidades afetadas pelos desastres naturais é mais alta nas áreas urbanas, devido a construção de moradias, rodovias e outras obras que interferem na drenagem da água das chuvas e nos processos erosivos. No entanto, ao longo dos últimos anos, as pessoas e empreendimentos têm procurado meios para percolar a água no solo, principalmente por meio de bacias de contenção, uma iniciativa que beneficia o meio-ambiente, auxiliando no abastecimento dos reservatórios subterrâneos e posterior uso desse recurso pela comunidade. A iniciativa, que ganha destaque neste 22 de março, Dia Mundial da Água, ainda merece ter seu uso ampliado no Brasil.

Dependendo da umidade inicial, da intensidade e duração da chuva, em um determinado momento, a capacidade de armazenamento de água do solo poderá ser esgotada, ou seja, ele ficará saturado. A partir desse momento, devido à ação da gravidade, o excesso de água que infiltrar diretamente será drenado para as camadas mais profundas do solo, indo abastecer os reservatórios subterrâneos. Esse movimento descendente da água no interior do solo, de cima para baixo, é chamado de percolação. A parte da água que percolou passa a ser chamada de água subterrânea.

A bacia de contenção é um recurso da engenharia civil muito utilizado para a percolação e que consiste na implantação de reservatórios que receberão a água das chuvas. Ela atua na diminuição da velocidade das águas captadas para que sejam absorvidas lentamente pelo solo. Em caso de excedente, a água será direcionada a cursos e mananciais de água, próximos ao loteamento. Um exemplo é a bacia feita na área verde do loteamento Jardim Alta Vista, em Trindade. “A tubulação tem 1,5 metro de diâmetro chegando na bacia e sai da bacia e lança com 0,4 metro de diâmetro no córrego. Com isso, o escoamento chega com menor vazão no manancial, além de ser absorvido naturalmente”, explica o engenheiro Raphael Gualberto, responsável pela obra.

O futuro bairro, em implantação na região do Trindade 2, receberá cerca de 800 famílias. Raphael chama atenção também para a importância da consciência dos futuros moradores, que não devem impermeabilizar todo o quintal, evitar jogar lixo nos bueiros, entre outras práticas, para manter a permeabilidade do solo. “Essa é uma responsabilidade do cidadão também. A infraestrutura é importante mas, sem as boas práticas, elas se tornam ineficientes”, diz.

Plantando água

Outra iniciativa em prol da absorção das chuvas foi implantada no Residencial Aldeia do Vale, em Goiânia, o qual possui um sistema com 11 bacias de contenção e caixas de infiltração para captar as águas pluviais e fazer com que elas retornem ao solo, para alimentar o lençol freático. “Elas são de extrema importância, pois mitigam o efeito da enxurrada. Sem isso a força da água é maior, até pela nossa topografia, e ela acaba indo embora, sem penetrar no solo e até assoreando nossos lagos”, destaca o presidente da Associação dos Amigos do Residencial Aldeia do Vale (Saalva), Ovídio Palmeira.

Ele conta que o sistema começou a ser implantado em 2015. “Para a bacia, é feita uma elevação de terra nos locais determinados, como se fosse uma barragem. Temos também algumas curvas de nível, que são parecidas com as bacias. A diferença entre elas é que a curva de nível tem a função de diminuir a velocidade da enxurrada, enquanto a bacia contém e infiltra a água no solo”, explica Ovídio, destacando ainda que no fundo das bacias são colocadas caixas de infiltração, para facilitar a penetração da água no solo e não deixar que ela fique empoçada por muito tempo.

Elas são buracos de 1,5m x 1,5m feitos nos fundos das bacias e formados por várias camadas de pedras, das maiores para as menores. “Isso é feito até se chegar na brita. Depois colocamos areia e vegetação e com o tempo ela fica disfarçada no local. Nós chamamos esse sistema de Plantar Água. Aqui no Aldeia, além de uma extensa área verde onde plantamos árvores, também plantamos água. À medida que aumenta nossa urbanização, aumentamos a quantidade de bacias de contenção”, salienta o presidente da Saalva e que mora no condomínio horizontal há 18 anos.

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