A taxa básica de juros está em 2% ao ano, menor patamar da história, e reduziu drasticamente a rentabilidade de aplicações em renda fixa. Com isso, imóveis voltaram a ser uma alternativa de investimento.
O negócio é vantajoso para aqueles que querem conservar o patrimônio. Porém, não estão dispostos arriscar na Bolsa ou em fundos de renda variável.
Economistas e consultores de finanças afirmaram que, nos últimos anos, o mercado imobiliário não era a melhor aplicação e muitos pregaram, inclusive, que, na ponta do lápis, valia a pena vender a casa própria e morar de aluguel para aplicar em renda fixa.
"Isso porque a rentabilidade com aluguel não chegava ao que se ganhava na renda fixa, com juros a mais de 14% ao ano. Fora a dor de cabeça. A situação dos aluguéis não mudou, a conjuntura econômica e essa comparação é que agora são diferentes", disse Alberto Ajzental, coordenador do curso de desenvolvimento de negócios imobiliários da FGV.
O cenário mudou e a tendência agora é de crescimento do segmento. Em momentos de crise, quando outros ativos mostram volatilidade, o preço dos imóveis é pouco afetado.
Além disso, os juros baixos incentivam aqueles que querem financiar a moradia, o que também favorece a retomada do mercado imobiliário.
A caderneta de poupança, por exemplo, rende a TR (Taxa Referencial), hoje zerada, mais 70% da Selic, que está em 2% ao ano.
A regra prevê que, quando a taxa básica de juros estiver acima de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será 0,50% ao mês, mais TR. Caso a taxa Selic esteja menor ou igual a 8,5% ao ano, o investimento é remunerado a 70% da Selic, acrescida da TR.
"Hoje, com a Selic a 2% ao ano, o mercado imobiliário é beneficiado nas duas pontas, para quem quer retirar recursos da renda fixa para investir e para quem quer financiar a casa própria", disse o especialista.
Segundo simulação de Ajzental, a cada 1 ponto percentual de redução na taxa de juros, 1 milhão de famílias se tornam elegíveis para o financiamento imobiliário.
"Essa redução faz com que o valor das parcelas caiam. A avaliação do banco é feita com base no nível de comprometimento de renda do tomador e isso faz com que pessoas que ganham menos consigam financiar um imóvel de maior valor, que antes ela não podia", afirmou.
Segundo a Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), a tendência é que a renda do aluguel supere os ganhos com aplicações em renda fixa e a valorização dos ativos reais (imóveis) costuma aumentar com juros baixos.
Cálculos da entidade mostram que os ganhos acumulados em 12 meses com aluguel, que foi de 5,15% em maio, superam em 128% a Selic e 226% o rendimento da poupança. A valorização dos imóveis foi de 9% no período, 302% a mais do que a Selic e 474% a mais do que a poupança.
A conta foi feita ainda com a taxa básica de juros a 2,25% e dados da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) de variação da renda com aluguel e valorização de imóveis. Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, no entanto, ela caiu a 2% ao ano, o que diminui ainda mais a rentabilidade da poupança e de outros investimentos de renda fixa.
"Mesmo quem tem apetite ao risco precisa diversificar a carteira e geralmente isso é feito com títulos públicos ou outras aplicações de renda fixa. Acredito que muitos desses investidores vão comprar imóveis", afirmou o presidente da Abrainc, Luiz Antônio França.
Segundo plataforma digital de intermediação de crédito imobiliário —a CrediHome—, a procura por financiamento habitacional cresceu 181,27% em junho. "O comportamento do consumidor mudou por causa da pandemia [da Covid-19], as pessoas ficaram mais em casa e a importância da casa própria cresceu", disse Bruno Gama, presidente-executivo da CrediHome, responsável pelo levantamento.
Segundo ele, a procura por crédito para reformas também aumentou. "Muitos vão permanecer em home office depois da crise e querem investir em melhorias ou ampliação, para o escritório, por exemplo", disse.
Uma pesquisa da OLX, site de classificados, também mostrou a tendência. Segundo a empresa, durante a pandemia, 19% das pessoas disseram ter aumentado o interesse em comprar imóvel e 41% mantiveram o desejo.
Para 48% dos entrevistados, no entanto, não poder visitar o imóvel presencialmente é o principal fator de preocupação. A pesquisa foi realizada entre 2 e 9 de julho com usuários da plataforma.
Fonte: Folha de S. Paulo
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