Quatro mil toneladas de resíduos da construção civil (RCC) são produzidas diariamente no Grande Recife. Tijolos, cimento, areia, gesso, madeira, ferro, papel são alguns dos insumos que podem ser reciclados e voltar ao canteiro de obras. Faz bem ao meio ambiente, reduz os custos das construtoras, e os gastos das prefeituras. Mas, apesar das exigências da nova lei de resíduos sólidos, apenas 10% do lixo produzido nas construções é reaproveitado. Estudos do grupo de pesquisa de Engenharia Aplicada ao Meio Ambiente da Universidade de Pernambuco (UPE-Poli) comprovam que o gerenciamento e a reciclagem dos resíduos da construção podem até gerar energia para abastecer os domicílios. Uma linha de pesquisas da UPE usa o RCC como material de aterro e compactação. O professor Alexandre Duarte Gusmão, um dos coordenadores do grupo, cita o exemplo da construção de um shopping na Região Metropolitana do Recife, que utilizou resíduos reciclados para fazer a pavimentação das áreas internas. Uma economia de R$ 4 milhões com material. Gusmão estima que uma edificação de 20 andares com 8 mil metros quadrados de área construída vai gastar cerca de R$ 70 mil com o gerenciamento de resíduos. "Se não fizer a segregação e a destinação correta o custo será maior, porque aumenta o desperdício." Outra pesquisa da UPE-Poli testa em laboratório os resíduos de construção para produzir energia. Segundo Gusmão, um volume de 3 mil a 4 mil toneladas de resíduos/dia, sendo 20 toneladas de madeira, tem o potencial de gerar energia para 50 residências. O próximo teste será numa usina experimental, a partir de agregados reciclados da construção, incluindo sacos de celulose. A nova fonte é bem-vinda diante da crise do setor energético. Um dos entraves para o gerenciamento e o reaproveitamento de RCC é a falta de controle dos pequenos geradores. São as construções informais que geram cerca de 70% dos resíduos das cidades. Por falta de fiscalização, os restos de material da construção acabam sendo descartados nas ruas, nos canais, e à beira das rodovias. Outro empecilho: existem apenas três unidades de gerenciamento de resíduos no Grande Recife. Uma delas, a Ciclo Ambiental, fica no município de Camaragibe. A empresa recebe, em média, 10 mil toneladas/mês de material. Os resíduos são tratados para tirar as impurezas e depois reciclados. "Produzimos areia e brita e colocamos à venda para as construtoras. Em média, vendemos 15 mil toneladas por mês de material reciclado", diz Marlon Pereira Bezerra de Melo, gerente financeiro da empresa. As construtoras tiveram que se enquadrar antes de a nova política nacional de resíduos sólidos (PNRS) entrar em vigor. Desde 2007, a Resolução nº 307 do Conama obriga os geradores de resíduos de construção a adotarem um plano de gerenciamento e a destinarem corretamente o lixo da obra. Uma exigência para as prefeituras liberarem o Habite-se das edificações. Algumas empresas adotaram o modelo proposto pela engenheira Thalita Cristina Rodrigues Silva, que ensina como separar os materiais (recicláveis e não-recicláveis). Ela aplicou em 13 canteiros de obras na Região Metropolitana do Recife o seu projeto de conclusão de mestrado na UPE/Poli. "O resultado foi um sucesso. Algumas empresas replicaram o modelo em outras obras", diz. Com o projeto, Thalita foi a vitoriosa do prêmio Odebrecht de Desenvolvimento Sustentável de 2008. Uma das construtoras, a AC Cruz, adotou o plano de gerenciamento de resíduos, com algumas adaptações. O engenheiro Cristovão Lemos, que gerencia uma das obras da empresa no Rosarinho, comprova as vantagens do tratamento correto dos resíduos. "Reduz os custos da obra porque otimizamos o uso do material. Economizamos com o transporte de resíduos para o aterro sanitário." O pedreiro Josedec Rocha está na empresa há quatro anos e aprova a separação dos resíduos. "Acho um grande avanço para o trabalhador e para a obra. Uma obra mais limpa é mais segura", ensina. Serapião Bispo, diretor do Sinduscon e coordenador do Fórum de Construção Sustentável de Pernambuco, diz que as construtoras associadas ao sindicato e à Ademi estão adequadas às novas práticas de gerenciamento de resíduos. A redução de custos é um dos atrativos. Ele cita a obra do shopping Reserva Camará, em Camaragibe. Lá foram economizados até agosto deste ano quase R$ 800 mil com o reaproveitamento dos resíduos de demolição. "Lixo é dinheiro em qualquer parte do mundo, menos no Brasil." (Fonte: Diário de Pernambuco Online/ Rosa Falcão)
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