Ao contrário do que muitos imaginam, a taxa anual de crescimento do PIB não mede a evolução desse indicador entre janeiro e dezembro, isto é, ponta a ponta. Na verdade, essa taxa é estimada confrontando-se o nível médio de um ano contra o nível médio do ano anterior.
Por conta disso, sempre que o PIB encerra o ano com um nível acima da média, ocorre um “efeito carregamento positivo”. Assim, se ao longo de um ano esse indicador simplesmente permanecesse no mesmo nível do último trimestre do ano anterior, ainda assim haveria uma taxa positiva de crescimento.
No caso brasileiro, se confirmadas as expectativas da última edição do Relatório Focus, o PIB crescerá 1,1% em 2019. Para que esse cenário se confirme, a taxa de crescimento no último trimestre do ano deverá ser de 0,85% na comparação dessazonalizada com o trimestre anterior, o que caracterizaria uma aceleração em relação à mesma taxa observada no segundo e no terceiro trimestres, respectivamente 0,39% e 0,58%.
Como consequência, a série trimestral do PIB encerraria 2019 cerca de 1% acima da média do ano e, portanto, essa seria a dimensão do efeito carregamento.
Confirmada essa aceleração ao final do ano que está se encerrando, para que o PIB de 2020 tenha crescimento de 2,2%, o que também corresponde à última projeção do Focus, seria necessário um ritmo trimestral de crescimento pouco abaixo de 0,5% na série dessazonalizada, isto é, abaixo da média do segundo semestre de 2019. Conclui-se que, a menos que ocorra uma piora inesperada no ambiente de negócios interno e/ou externo, a taxa de crescimento do PIB brasileiro deverá mais do que dobrar entre 2019 e 2020, ainda que permaneça em níveis historicamente modestos.
No caso da construção civil, o efeito carregamento estimado é da ordem de 1,9%, isto é, ainda mais favorável do que para a economia como um todo. Assim, ainda que a expansão setorial ao longo do 2020 seja da ordem de 0,4% por trimestre na série dessazonalizada, as projeções de crescimento do PIB setorial na casa dos 3% tenderão a se confirmar. Vale lembrar que, no terceiro trimestre, o crescimento dessazonalizado do PIB da construção foi de 1,3%.
Em síntese, tanto em nível agregado quanto setorial, 2019 está deixando uma herança positiva para o próximo ano em termos da atividade econômica. Resta, agora, torcer por uma melhora ainda mais positiva, o que poderá contribuir para a superação progressiva e definitiva do clima recessivo do passado.
A análise mensal do SindusCon-SP e da FGV/Ibre está disponível aqui.
Fonte: AbrainC
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