Somente em julho foram eliminadas 94,7 mil vagas com carteira assinada, o segundo pior resultado para o mês nos registros no Ministério do Trabalho. Com a economia ainda fraca, especialistas não veem perspectivas de melhora no horizonte. O mercado de trabalho formal registrou, em julho, o segundo pior resultado para o mês da série histórica, que começou em 1992, com a perda de 94.724 vagas com carteira assinada no País. O resultado negativo só não superou o de julho do ano passado, quando houve a eliminação de 157.905 postos. Foi o 15º mês seguido de queda. No ano, já são menos 623.520 empregos. Nos últimos 12 meses, o total chega a 1.706.459. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e foram divulgados na sexta-feira pelo Ministério do Trabalho. Rodolfo Peres Torelly, ex-diretor do Departamento de Emprego do ministério, ressalta que até a agricultura, que apresentou resultado positivo com a criação de 4.253 vagas, não chegou nem perto da média para esta época do ano. “Nesse período, são gerados, em média, 30 mil empregos nesse setor”, observou. “Portanto, não tem nada de bom nesse resultado. O que de fato importa é que quase 100 mil chefes de família perderam os meios de se sustentar”, avaliou. O professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo Hélio Zylberstajn ressaltou que o segundo semestre costuma ser melhor para as contratações. Salientou, no entanto, que a deterioração chegou com força ao setor de serviços, que era o carro-chefe dos empregos no País, mas perdeu 40.140 postos no mês passado. A construção civil, com 27.718 vagas fechadas, e o comércio, com a eliminação de 16.286 empregos, vieram na sequência. “Não vejo sinal nenhum de retorno das contratações. Veja os casos da Mercedes e da Embraer, que anunciaram demissões. A construção civil vai primeiro desovar estoques, para só depois começar a recontratar. O mercado de trabalho, infelizmente, sempre foi o último setor da economia a reagir, e não será diferente agora”, destacou. Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília, explicou que a economia precisaria retomar um ritmo forte de crescimento para que a situação do mercado de trabalho melhorasse de forma significativa. “A recuperação está muito distante. É verdade que o emprego deixou de cair assustadoramente, e não veremos os tombos do ano passado se reproduzirem. Mas, daí para recontratar, vai demorar muito tempo”, considerou. ”Além disso, a expansão da economia, prevista em pouco mais de 1% para 2017, não gera empregos. Para isso, precisaríamos crescer a taxas de 3% a 4% por vários anos, como aconteceu nos anos 2000”, afirmou.