BANCOS ESPERAM QUE CRISE AMPLIE CRÉDITO IMOBILIÁRIO POR CANAL DIGITAL

Os bancos esperam aumento na contratação de financiamento imobiliário por meio dos canais digitais, devido aos impactos da crise do coronavírus. Esse tipo de operação já estava disponível antes da quarentena, mas ainda é pouco utilizada. Agora, a demanda deve aumentar, acompanhando a expansão das vendas online de imóveis. Mais do que nunca, o internet banking está sendo visto como uma forma de amenizar a queda nas contratações de crédito imobiliário, cujos novos pedidos encolheram até 50% desde o início da crise no País.

Os bancos têm total interesse no desenvolvimento do canal digital: além de menos oneroso, ele agiliza a concessão de empréstimos. "Já dá para o cliente contratar um financiamento imobiliário tranquilamente sem pisar no banco", afirma a presidente da Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Cristiane Magalhães Portella. "Certamente a modalidade vai crescer, como tudo que é feito pela via digital", diz. "A vida vai se transformar de modo relevante depois desta crise."

A própria atuação de bancos e construtoras caminha para essa alternativa. Uma que surge em meio à pandemia é a oferta combinada da venda do imóvel e do financiamento via canais digitais. Um grande banco teria ao menos cinco projetos para estruturar a ferramenta, espécie de marketplace de imóveis, por meio da combinação do canal da construtora e da instituição financeira por meio de APIs, que são as interfaces tecnológicas para compartilhamento de dados. Apesar de já ser realidade, a disponibilidade da contratação do financiamento imobiliário pela internet varia em cada banco. Nos últimos anos, essas instituições se debruçaram em aperfeiçoar os canais digitais, reduzindo não só a burocracia da linha como o tempo gasto com a contratação do crédito.

Até aqui, porém, a internet tem pouco peso na geração de novos negócios. No Itaú Unibanco, por exemplo, no qual Portella também é diretora de crédito imobiliário, os contratos fechados online representam apenas 5% do total. Em outro grande banco, o porcentual é de 7%. Outro concorrente dentre os gigantes do financiamento imobiliário diz que sua produção digital representa 15% do total e a expectativa de crescimento permanece nesta crise. "Esperávamos que esse porcentual (hoje de 7%) chegasse a 30% se não tivesse a crise. Ainda não sentimos a evolução. A demanda por crédito imobiliário nos canais digitais cresceu muito pouco", diz o executivo de um grande banco, na condição de anonimato.

A razão é que a carteira de crédito imobiliário, que caminhava para apresentar um de seus melhores anos em 2020, mudou completamente de prumo com a crise. O pedido de novas contratações encolheu de 30% a 50% nos bancos, conforme executivos. Por ora, o que está em andamento são contratos que já tinham sido iniciados antes da pandemia. Diferente de outras modalidades, o crédito imobiliário consome mais tempo para ser concluído, uma vez que abrange uma série de etapas e envio de documentos. "Estamos tendo muitas simulações, mas a tomada de decisão está em espera. É natural. As pessoas estão com receio de tomar decisões de maior magnitude", afirma o executivo de outro grande banco, que também pede para não ser identificado.

A crise já fez os bancos abandonarem as projeções de desempenho para o crédito imobiliário neste ano. O setor previa crescimento de 18% frente a 2019, considerando linhas com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), segundo a Abecip. Agora, a orientação é esperar o fechamento de abril para mensurar o tamanho da crise no setor.

A expectativa, segundo a presidente da Abecip, é de que, em março, os bancos tenham sentido redução da ordem de 20% por dia útil, frente a fevereiro. Nos dois primeiros meses deste ano, segundo a Abecip, os empréstimos para aquisição e construção de imóveis com recursos da caderneta somaram R$ 13,52 bilhões, alta de 35,7% ante igual período de 2019. O ritmo, inclusive, superava a próxima projeção dos bancos para a modalidade, de elevação de 31% neste ano. "Depois desse 'U', o mercado de crédito imobiliário vai voltar, com uma característica muito maior de contratação por meio dos canais digitais, não tendo tanta presença física. Estamos numa transição", diz a fonte.

Fonte: Estado de S. Paulo

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