CONSTRUCARTA NÍVEL DE ATIVIDADE: A INFLAÇÃO DA CONSTRUÇÃO

A atividade da construção já recuperou o patamar anterior ao início do isolamento determinado pela Covid-19. A boa notícia está refletida nos indicadores como emprego e demanda por materiais e na recuperação da confiança nos negócios, como mostrou a Sondagem da FGV de outubro.

No entanto, a recuperação, que surpreendeu pela rapidez, veio junto com uma elevação igualmente expressiva e inesperada dos preços dos insumos setoriais. Assim, a Sondagem de outubro também mostrou que o custo dos materiais já é o segundo fator mais assinalado pelas empresas de Edificações entre os quesitos que mostram as limitações à melhoria dos negócios. Vale notar que 26% das empresas apontaram esse quesito, um percentual inferior apenas às assinalações de Demanda Insuficiente, com 43% das indicações.

Ou seja, para as empresas que estão registrando a retomada dos negócios e das atividades e não acusam a demanda como um problema, é o custo dos insumos que mais preocupa. De fato, todos os índices setoriais, a despeito de metodologia e composição diferentes mostram o mesmo movimento de alta expressiva decorrente da elevação dos materiais.

Como a cesta que compõe os indicadores de custo é bastante diversificada, abrangendo materiais de origens diversas, não é possível estabelecer uma causa única para esse movimento, mas pode-se apontar alguns fatores, como prováveis determinantes da súbita inflação setorial.

A desmobilização da produção industrial parece ser um dos principais motores da alta expressiva dos últimos meses. A queda na demanda nos meses de abril e maio e a necessidade de realizar o isolamento social provocaram a paralisação da produção fabril, afetando a oferta de insumos.

No setor da construção houve um claro descolamento entre oferta e demanda: entre abril e fevereiro, enquanto o volume de vendas do comércio varejista teve queda de 21%, a produção de materiais caiu 32%. No ano até setembro, as vendas de materiais no varejo já registram crescimento de 7,8%, mas a produção de materiais ainda tem queda acumulada de 4,7% no mesmo período.

Além das vendas do comércio, a rápida retomada das obras representou um impulso adicional importante na demanda por materiais, aumentando o descolamento observado para a produção.

Nesse cenário, pode-se incluir ainda a desvalorização cambial, que entre fevereiro e outubro superou 28%, o aumento dos preços das commodities metálicas, e até uma recomposição de margens da indústria – mais difícil de ser apurada.

Vale notar que os aumentos não foram percebidos em todos os insumos, mas concentrados em alguns que têm participação mais relevante no orçamento das obras – apenas oito insumos respondem por mais da metade do aumento dos custos setoriais registrados no ano até outubro.

Aumentos tão significativos em curto período e em uma fase crítica de retomada têm potencial de provocar grandes desarranjos organizacionais, o que explica o aumento das assinalações na Sondagem.

A evolução do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) no primeiro decêndio de novembro mostra ligeira desaceleração dessa pressão altista. O INCC-M subiu 2,97% no primeiro decêndio do mês contra uma variação de 3,22% no primeiro decêndio de outubro. O Índice de Preços ao Produtor de Materiais e Componentes para a Construção do mesmo período ainda aponta variações expressivas, que podem chegar na cesta final de produtos para empresas e famílias, mas também mostra desaceleração no ritmo dos aumentos: o índice registrou variação de 3,3% no primeiro decêndio de outubro, passando para 2,62% no primeiro decêndio de novembro.

Fonte: Sinduscon-SP

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