A RETOMADA DO SETOR DE CONSTRUÇÃO

É notório o retorno do otimismo na indústria da construção e entre os agentes do mercado imobiliário. Dados recentes são bastante satisfatórios e sua evolução é consistente o suficiente para instilar confiança no empresariado desse segmento com relação à atividade presente. Vão ficando confinados no passado o cenário e o ambiente sombrios que marcaram o período inicial do impacto da pandemia do novo coronavírus sobre a economia e a sociedade.

Grande empregador de mão de obra, a indústria da construção pode voltar a ter papel decisivo na normalização do mercado de trabalho – que continua a registrar altos índices de desocupação –, caso sua recuperação se consolide. Identifica-se, porém, alguma dose de incerteza no empresariado a respeito das tendências para os próximos meses. Há, de fato, elementos que em alguma medida turvam as previsões. Entre eles estão a persistência do grande número de desempregados, a insegurança da população com relação à renda futura, os sinais de que a retomada pode ser lenta e desigual entre os diferentes setores. No momento, porém, predominam expectativas otimistas.

A Sondagem Indústria da Construção divulgada há alguns dias pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que o setor continua a registrar desempenho positivo depois da forte queda da atividade em abril. De acordo com o relatório, os índices de evolução do nível de atividade e do número de empregados mantiveram em agosto a trajetória de recuperação observada desde maio. O índice de evolução do nível de atividade registrou 51,4 pontos em agosto, 3,3 pontos mais do que em julho. Esse é o maior índice desde junho de 2011, “o que revela melhora significativa na comparação com o mês anterior”, diz a CNI.

A pesquisa constatou também que os empresários da construção estão cada vez mais confiantes e que as expectativas para os próximos seis meses melhoraram. Também segue em alta a intenção de investir.

Divulgada alguns dias depois, com dados relativos a setembro, outra pesquisa sobre o setor – com nome semelhante, a Sondagem da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) – não apenas confirma as tendências apontadas pela CNI, como indica sua persistência. O Índice de Confiança da Construção subiu de 87,8 para 91,5 pontos entre agosto e setembro. A recuperação se mantém.

“A confiança do setor de construção retornou à zona de pessimismo moderado em que se encontrava antes da pandemia”, observou a coordenadora do estudo da FGV, Ana Maria Castelo. É dominante a percepção de recuperação da atividade desse segmento da indústria e do crescimento dos negócios, o que tem reflexo na melhoria das expectativas.

Mas essa avaliação não se aplica a todo o setor. “A área de serviços foi mais penalizada e registra mais dificuldade em se recuperar, assim como o mercado de edificações comerciais”, ressalva a coordenadora da pesquisa da FGV. Do lado positivo, “o segmento de edificações residenciais avança mais rapidamente, confirmando o bom momento do mercado, impulsionado pelas taxas de juros mais baixas e pela maior oferta de crédito”.

Indicador expressivo da evolução das vendas e da construção de moradias, o volume de financiamentos bateu recorde em agosto, tendo alcançado o valor de R$ 11,7 bilhões, com alta de 8,3% em relação a julho e de nada menos que 74,7% sobre os resultados de agosto do ano passado. São dados da pesquisa da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

No resultado acumulado dos oito primeiros meses do ano, a alta foi de 39,8%. O total de empréstimos para compra e construção de moradias de janeiro a agosto deste ano foi de R$ 65,9 bilhões. O principal fator para essa alta, como apontado pela pesquisadora da FGV, é a taxa de juros baixa. A taxa média de 7,16% ao ano, observa a Abecip, torna a parcela mensal do financiamento equivalente ao aluguel em muitos casos, o que incentiva a compra da casa própria.

Fonte: Estado de S. Paulo

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